Topo
Esporte

Especialista explica como caso de Pedro Severino é raro, mas não impossível

Pedro Severino, jogador do Bragantino, em casa após ter alta hospitalar - Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, em casa após ter alta hospitalar Imagem: Lucas Severino/Instagram
do UOL

Do UOL, em São Paulo

12/06/2025 05h30

O caso de Pedro Severino, jogador do Bragantino que se envolveu em grave acidente e teve alta hospitalar nesta semana, é "muito raro, mas não impossível", analisou Feres Chaddad, médico ouvido pelo UOL.

Recuperação rara

Pedro teve traumatismo craniano e o protocolo de morte encefálica iniciado. O atleta reagiu, teve o processo interrompido e viveu evolução gradual até receber a alta hospitalar 96 dias após o acidente, o que o tornou um caso raro de recuperação em episódios do tipo.

O caso do jogador Pedro Severino é muito raro, porém não impossível [...] É provável que, inicialmente, os achados clínicos tenham sido compatíveis com morte encefálica, o que levou ao início do protocolo. No entanto, com a repetição dos exames após o intervalo obrigatório, a equipe médica observou o retorno de alguma atividade neurológica, suspendendo corretamente o processo diagnóstico.

Esse desfecho ressalta a importância de se cumprir todos os critérios de forma rigorosa, especialmente quando há fatores que podem simular a morte encefálica. Algumas condições clínicas são capazes de mimetizar esse quadro, como o coma profundo causado por lesão cerebral difusa, estados vegetativos transitórios, hipotermia e distúrbios metabólicos graves.
Feres Chaddad, professor e chefe da Neurocirurgia Vascular da Unifesp e coordenador da Neurocirurgia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo

Alguns fatores contribuíram para a recuperação rara de Pedro Severino. Entre eles, estão condições biológicas do próprio jogador.

Outro ponto que chama atenção nesse caso é a recuperação significativa do jogador após o traumatismo craniano grave. Isso é possível graças a capacidade do nosso cérebro se moldar diante de situações adversas (no caso, a grave lesão), à assistência intensiva precoce e a um programa de reabilitação bem conduzido. Outro ponto a se ressaltar, é que o Pedro é um indivíduo jovem e atleta, dois fatores que ajudam na melhora do prognóstico.
Feres Chaddad

Pedro Severino, atualmente, vive a terceira — e última — fase de recuperação. Esta é a mais longa e varia de caso a caso. Chaddad ressalta que os pacientes podem recuperar boa parte das funções, como também podem apresentar sequelas.

Na fase de reabilitação intensiva, que pode durar meses ou anos, o paciente a por um programa multidisciplinar envolvendo fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, neuropsicologia e acompanhamento neurológico. É importante destacar que todo esse processo é altamente variável. Alguns pacientes podem recuperar grande parte das funções, enquanto outros mantêm sequelas importantes.
Feres Chaddad

Morte encefálica não é reversível

O caso de Pedro Severino não deve criar falsa esperança de que morte encefálica é reversível. Chaddad mostra preocupação com a criação de expectativas.

O médico explica que o atleta teve o protocolo iniciado justamente para constatar a perda das funções desta área do corpo. Como Pedro Severino reagiu, ainda havia atividade, o que descartou a morte encefálica.

Essa é uma preocupação relevante, e é crucial esclarecer que existe uma diferença fundamental entre condições como coma, estado vegetativo e morte encefálica, sendo esta última absolutamente irreversível. A morte encefálica é um diagnóstico definitivo, determinado por rigorosos critérios médicos que incluem a ausência completa de atividade cerebral, incluindo do tronco encefálico, confirmada por exames. Uma vez diagnosticada, não há possibilidade de recuperação, trata-se literalmente da morte do indivíduo.

No caso do jogador do Bragantino, dois pontos precisam ser ressaltados: primeiro, o diagnóstico de morte encefálica não chegou a ser concluído, e sim interrompido corretamente após o paciente apresentar sinais de atividade neurológica. Segundo, em casos semelhantes como a do jogador Pedro Severino, no qual o paciente, após trauma neurológico grave, pode apresentar coma profundo, estado vegetativo ou graves lesões cerebrais, ele não perde completamente a atividade cerebral o que permite a sua recuperação.

É por isso que o protocolo de morte encefálica é tão rigoroso, justamente para evitar erros. O caso do Pedro reforça a importância desse rigor e mostra que, quando o protocolo é seguido corretamente, há segurança no processo, tanto para evitar diagnósticos precipitados quanto para garantir confiança da sociedade nesse tipo de avaliação.
Feres Chaddad

O caso

O jogador Pedro Severino, do RB Bragantino, recebeu alta hospitalar nesta manhã após ar mais de três meses internado desde o acidente gravíssimo que sofreu na Rodovia Anhanguera, em Americana (SP), no início de março. Ele chegou a ter um protocolo de morte encefálica aberto, mas surpreendeu até a equipe médica e teve o processo interrompido após tossir.

O atleta de 19 anos ficou 96 dias internado. Durante o período, Pedro foi assistido por intensivistas no Hospital Unimed de Ribeirão Preto —incluindo neurocirurgiões, neurologistas clínicos e com e de equipes multidisciplinares— liderados pelo médico Gil Teixeira.

O atacante do sub-20 do Bragantino teve um grave traumatismo craniano após acidente sofrido em 4 de março na rodovia Anhanguera, na altura da cidade de Americana. Pedro é filho de Lucas Severino, atacante que jogou em Athletico, Cruzeiro e Corinthians no início do século.

O carro colidiu contra a traseira de um caminhão, e ele estava no banco do ageiro. O motorista particular itiu que dormiu ao volante. Ele ou por teste de bafômetro, que não detectou consumo de álcool.

O jovem jogador está emprestado pelo Botafogo-SP e faria seu primeiro treino pelo Bragantino quando sofreu o acidente. Ele estava a caminho do CT do novo time junto de outro atleta, Pedro Castro, que sofreu uma fratura na vértebra cervical, mas recebeu alta hospitalar dias depois do acidente.

Em maio, Pedro Severino fez sua primeira aparição pública desde o episódio. Ele caminhou pelo quarto e surgiu rapidamente em uma das janelas do hospital, gerando a euforia de fãs, amigos e familiares que foram ao local. Após a alta hospitalar, o pai do jogador publicou fotos dele já em casa, com a família.

Veja fotos de Pedro Severino

Pedro Severino, jogador do Bragantino, em casa após ter alta hospitalar - Lucas Severino/Instagram - Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, em casa após ter alta hospitalar
Imagem: Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, em casa após ter alta hospitalar - Lucas Severino/Instagram - Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, em casa após ter alta hospitalar
Imagem: Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, aparece em primeiras fotos após se recuperar de acidente - Lucas Severino/Instagram - Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, aparece em primeiras fotos após se recuperar de acidente
Imagem: Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, em casa após ter alta hospitalar - Lucas Severino/Instagram - Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, em casa após ter alta hospitalar
Imagem: Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, aparece em primeiras fotos após se recuperar de acidente - Lucas Severino/Instagram - Lucas Severino/Instagram
Pedro Severino, jogador do Bragantino, aparece em primeiras fotos após se recuperar de acidente
Imagem: Lucas Severino/Instagram

Esporte